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sábado, 6 de outubro de 2012

Ser jornalista em Portugal - perfis sociológicos

José rebelo (coordenador)
Outros Autores - ver capa

Numa primeira parte, o livro analisa a profissão de jornalista na perspectiva das transformações que se têm vindo a verificar no tipo de pessoas que chegam à profissão, suas habilitações e na das condições de exercício da actividade, nomeadamente no que respeita às relações de trabalho. Numa segunda parte, a profissão é mostrada na perspectiva dos próprios jornalistas, em entrevistas, algumas muito vivas, que procuram transmitir a história de vida (profissional) de cerca de 40 jornalistas com níveis de notoriedade e percursos diferenciados. A maior parte destas entrevistas lêem-se com gosto e muita curiosidade, não só pela história do entrevistado em si, mas pelo que frequentemente nos revelam sobre o meio, a sociedade e a história. De entre todos estes relatos, deliciei-me sobretudo com o de José Estêvão Santos Jorge -  entretanto falecido - que era, à data da entrevista (2006), o sócio número 1 do sindicato dos jornalistas. Aqui fica um pedaço.

P — Entrou no jornalismo de que forma?
R — Depois das aulas, que eram no Poço Novo, ao fundo da Calçada do Combro, ia visitar o meu pai, à Rua Luz Soriano.
P — Onde se situava o Diário de Lisboa?
R — Sim, tinha começado poucos anos antes [em 1921]. Era dirigido pelo dr. Joaquim Manso, com o Norberto Lopes a chefe de redacção.
P — Porquê essa visita ao seu pai?
R — Ia pedir bilhetes para o cinema. Pagava-se um escudo, julgo. Levava sempre um amigo comigo, porque eram dois bilhetes [a que os jornalistas tinham direito]. Um dia o dr. Tavares da Silva, por quem vim a ter uma estima muito grande – foi depois o primeiro seleccionador nacional de futebol a vencer a Espanha, morreu muito cedo – perguntou de brincadeira: “Quanto é que o teu pai te dá por semana?” (Coitado, dava-me o dinheiro para o eléctrico e mais nada)  “Queres ganhar uns tostõezinhos ao fim-de-semana?”. Claro que queria. “Então passa por cá e procura o senhor [já não me lembro do nome] da agenda”. Era quem distribuía os serviços: natação, vela, hóquei em campo. Só uma vez fiz futebol. Um colaborador não apareceu e mandaram-me fazer o relato. Vi-me aflito para relatar o desafio.
P — Aflito, porquê?
R — Não era como agora. Tinha que se ir a correr para o telefone, dar uma parte do jogo e depois ir a correr outra vez para o campo. Foi assim que comecei a ganhar os meus tostõezinhos.

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